“Com o intuito de personalizar e identificar as coisas, o ser humano desenvolveu um processo simples e prático: dar nome a elas. Mas para o mundo das marcas, parece que não é tão simples assim.”
Sempre que um trabalho de naming surge na pauta sabemos que será um grande desafio. Isso porque o nome é o início da história de identificação e reconhecimento de uma marca e precisa estar alinhado à estratégia do negócio. Em um mundo em que tudo já existe, criar um nome relevante e passível de registro é uma dança criativa.
Além do mais, o nome da marca é parte crucial da estratégia de branding e, uma vez estabelecido, pode ser difícil de mudar. Portanto, é importante investir tempo e reflexão para escolher a opção que represente adequadamente a marca e ajude no seu sucesso a longo prazo.
Um exemplo clichê quando falamos de estratégia em criação de nomes é o da Apple. Será que ela teria o mesmo reconhecimento se ao invés de uma maçã, utilizasse uma pera para representar a sua empresa? Certamente não. Não foi uma pera que caiu na cabeça de Newton, fazendo as pessoas relacionarem de forma inconsciente uma fruta à ciência e inovação. Seu nome é uma escolha inusitada em um setor dominado por siglas e nomes técnicos, evocando simplicidade e acessibilidade para se destacar em um mercado complexo.
Seguindo o exemplo da Apple fica evidente a importância de considerar que o nome sozinho não vai carregar todos os valores da marca. A função principal dele é identificar. A personalidade representada em todo o sistema de identidade é que faz com que a marca seja reconhecível e diferente.
Outra questão importante quando criamos nomes conectados com a estratégia é pensar no longo prazo. Por exemplo, se uma empresa que se chama “1001 Pastéis” quiser ampliar seu negócio e vender também bolos? Por outro lado, um nome pode já segmentar e apresentar para o público do que se trata o negócio facilitando a comunicação, como é o caso da plataforma Enjoei, em que qualquer pessoa pode vender coisas que não quer mais. Ou ainda, um nome pode remeter a uma “longa história” como é o caso da Häagen-Dazs, rede de sorvete americana que criou um nome sem significado algum, mas que remete a países escandinavos, sugerindo que o produto vem de lá.
A Starbucks adotou um inspirado por um personagem do livro "Moby Dick". O nome evoca uma sensação de aconchego e convívio, trazendo atributos que encontramos na marca e na experiência no ponto de venda.
A Amazon escolheu um nome que faz referência ao maior rio do planeta. Essa escolha inusitada reflete a ambição da empresa de ser uma loja online com uma ampla variedade de produtos, tanto quanto o Rio Amazonas é longo e diversificado.
O Spotify combina "spot" (local) e "identify" (identificar), criando um termo inovador que sugere encontrar e identificar músicas. Essa abordagem não convencional ajudou o Spotify a se tornar uma marca líder no setor de música em streaming.
Esses exemplos demonstram que nomes podem funcionar bem se estiverem alinhados com a estratégia e os valores da marca. Eles têm o potencial de se destacar, criar curiosidade e serem memoráveis, fatores essenciais para o sucesso no mercado competitivo de hoje. Novamente é importante dizer que o sucesso desses nomes muitas vezes está ligado à forma como são apoiados por uma estratégia de branding sólida e uma entrega consistente de valor ao cliente.
Aqui na Néktar utilizamos diferentes ferramentas de geração de alternativas, mas o foco principal é que o nome nos ajude a contextualizar o negócio e criar um storytelling pra marca. Por exemplo, recentemente criamos o nome de um bar e restaurante que fica nos fundos de uma Alameda em Porto Alegre. Entre muitas alternativas geradas, foi escolhido o nome Spia Bar e Cozinha, um nome que já traz uma característica do lugar de uma forma inusitada e convida as pessoas a espiar e conhecer o espaço.
Além do Spia, já criamos muitos outros nomes para vários seguimentos, e a partir da nossa experiência, reunimos aqui pontos importantes (alguns já citamos) na hora de criar/aprovar um nome:
1. Relevância e Significado: O nome deve estar relacionado à essência do negócio ou produto. Ele pode refletir sua missão, valores ou proposta de valor.
2. Singularidade: O nome deve ser distinto o suficiente para se destacar no mercado e evitar confusão com outras marcas existentes.
3. Facilidade de Pronúncia e Escrita: Um nome fácil de ser pronunciado e soletrado facilita a comunicação e a memorização.
4. Memorabilidade: Um nome memorável é mais provável de ser lembrado pelo público. Evite siglas complexas ou termos obscuros.
5. Disponibilidade Legal: Verifique se o nome está disponível para registro de marca e de domínio na web. Isso pode ser fundamental para a proteção da marca.
6. Audiência-alvo: Considere o público que deseja atingir. O nome deve ressoar com seu público-alvo.
7. Flexibilidade: Pense se o nome permitirá que a marca cresça e se adapte a mudanças no negócio ou no mercado ao longo do tempo.
8. Criação de Valor: O nome pode comunicar o valor que a marca oferece. Pode ser aspiracional ou descrever os benefícios do produto/serviço.
9. Conotações Negativas: Esteja atento a possíveis conotações negativas ou interpretações inadequadas do nome em diferentes idiomas ou culturas. 10. Testes e Feedback: Considere testar o nome com outras pessoas, avaliando como ele é dito ou escrito, sendo pontos importantes de validação para tomar uma decisão final.
Não é tarefa fácil! Para quem mora em grandes centros urbanos, todos os dias, temos contato com mais de 7.000 marcas. E todas tem um nome! Fica evidente a necessidade de darmos atenção e valorizarmos essa etapa de projeto, que norteará todo o caminho de linguagem e comunicação.
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