Nos últimos anos, a ideia de escalabilidade tornou-se um mantra no mundo dos negócios. Desde então, empresas e startups buscam formas de crescer exponencialmente, expandir mercados e maximizar lucros. Um negócio escalável é aquele que encontra uma fórmula para replicar sua operação ou produto para venda em larga escala, seja industrializando seus processos de produção ou criando um sistema de filiais e franquias para atendimento de um número grande de pessoas, diluindo assim, na maioria dos casos, os custos unitários de produção e conseguindo preços mais baixos. Com demandas cada vez maiores, a lógica é focar no maior crescimento possível e, ser escalável, então, passou a ser sinônimo de sucesso. Mas será que, no contexto atual de maior consciência dos recursos finitos, esse modelo continua viável?
Trazemos aqui uma reflexão sobre o conceito de "Zoom In", contrapondo a escalabilidade, no sentido de questionar o impacto do crescimento exponencial no planeta. A hipótese que apresentamos como alternativa é a economia granular, apoiada pela inteligência artificial (IA), para criar um futuro mais sustentável e inclusivo.
A ideia de crescimento exponencial pressupõe um aumento contínuo na demanda e no consumo, alimentado por um sistema econômico que valoriza o “mais” acima de tudo. Esse modelo, no entanto, ignora as limitações dos recursos naturais e o impacto ambiental.
Além disso, a escalabilidade tradicional tende a concentrar riqueza e poder em grandes corporações, muitas vezes às custas de pequenos negócios e economias locais. Assim, o sucesso de uma empresa que escala globalmente pode, ironicamente, sufocar iniciativas menores e mais sustentáveis, criando ecossistemas econômicos fragilizados e homogêneos.
Será que, diante de crises climáticas e desigualdades sociais, precisamos redefinir o que significa crescer?
Zoom In: A Economia Granular como Alternativa
Em vez de olhar para o crescimento como uma explosão exponencial, que tal adotar um “Zoom In”? Esse conceito nos convida a valorizar os pequenos sistemas, as economias locais e os negócios comunitários que, somados, podem criar redes resilientes.
Em vez de expandir o negócio para o máximo de pessoas e territórios, o conceito de escalabilidade aqui é contraposto pelo conceito de "Zoom In", que propõe um movimento de encolher o foco, de entrar em detalhes, de valorizar o pequeno, o local, o específico. Esse movimento rejeita a ideia de que o crescimento exponencial é o único indicador de sucesso e passa a considerar a qualidade e a profundidade das interações, das relações e das experiências como métricas igualmente valiosas. Em vez de generalizar soluções para um grande público, eles se voltam para as nuances e particularidades, também contrapondo o conceito de agilidade com o de dinamismo. Enquanto os métodos ágeis se concentram na velocidade e na eficiência, os processos dinâmicos oferecem uma alternativa que valoriza a adaptabilidade e a complexidade das relações e interações. No Zoom In, em vez de reduzir processos e produtos a algo replicável e simplificado, há um reconhecimento de que cada contexto, cada comunidade e cada indivíduo traz consigo características que merecem ser consideradas.
Não é sobre quantos clientes você atende, mas sobre quão bem você atende aqueles que confiam em seu trabalho. Não é sobre velocidade, mas sobre atenção.
A economia granular é um bom exemplo. Ela refere-se a um conceito emergente na era digital, onde as transações econômicas são cada vez mais fragmentadas, descentralizadas e baseadas em micro interações entre indivíduos. Ao contrário de uma economia tradicional, onde grandes corporações ou intermediários determinam os preços e organizam o mercado, a economia granular é caracterizada por um ambiente mais flexível, personalizado e diversificado. A economia granular valoriza a diversidade e a personalização. Em vez de perseguir soluções padronizadas para milhões, foca em atender comunidades específicas com necessidades e características únicas. Esse modelo reduz desperdícios, fortalece os ecossistemas locais e pode promover um impacto ambiental menor.
Nesse contexto, a inteligência artificial tem potencial para ser uma grande aliada nesse processo. Com o suporte da IA, pequenos negócios podem acessar ferramentas sofisticadas para gerenciar operações, entender o mercado e otimizar recursos. Isso democratiza o acesso à inovação, permitindo que empreendedores locais prosperem sem precisar “escalar” no sentido tradicional.
Ao contrário da narrativa predominante que associa a IA ao domínio das grandes corporações, essas tecnologias têm o potencial de empoderar os pequenos negócios. Por exemplo:
Automatização acessível: Sistemas de gestão de estoques, marketing digital e atendimento ao cliente já estão ao alcance de pequenos negócios, muitas vezes com baixo custo.
Personalização em escala local: A IA permite a análise de dados para entender o comportamento de consumidores locais, criando produtos e serviços mais relevantes.
Redução de custos: Ferramentas baseadas em IA ajudam a otimizar processos, desde a produção até a logística, reduzindo desperdícios e aumentando a eficiência.
Dessa forma, a IA pode ser usada como um trampolim para fortalecer economias locais, promovendo escalas mais humanas e sustentáveis.
A obsessão pelo “grande” precisa ser substituída pela busca pelo “melhor”. Sucesso não deve ser medido apenas por números de crescimento, mas por impacto, relevância e sustentabilidade.
Adotar o Zoom In significa reavaliar prioridades:
Como os negócios podem se tornar mais alinhados às necessidades locais?
De que forma podem contribuir para a preservação ambiental e para o bem-estar das comunidades?
É possível crescer de maneira descentralizada, sem sobrecarregar o planeta?
Repensar a escalabilidade é um passo essencial para criar um futuro mais equilibrado. Assim como valorizar a economia granular e adotar tecnologias para fortalecer pequenos negócios podem ser caminhos viáveis para um mundo mais sustentável.
Será que o verdadeiro sucesso pode estar em construir redes locais fortes que se conectam globalmente, criando um ecossistema onde o crescimento não é medido pela quantidade, mas pela qualidade e pelo impacto positivo?
E mais importante ainda, será que é viável produzir em menores quantidades para grupos mais específicos e com mais qualidade, mas cobrar o mesmo preço do cliente final? Ou ainda, será possível dar oportunidades de todos comprarem produtos feitos em menor escala com mais qualidade, para que esses produtos não sejam privilégio apenas de quem pode?
São questões que queremos ver em pauta quando avaliamos o uso da IA como forma de melhorar nossa qualidade de vida.
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